A maioria dos portugueses só vive dois meses por ano. Quando recebem o subsídio de férias e o de Natal. Se no Verão, isso não se sente muito em Lisboa, o mesmo não se pode dizer na quadra natalícia. Os centros comerciais estão cheios, o que é normal. O que já não me parece tão normal é o facto de estarem cheios numa segunda-feira entre as 14 e as 16 horas. Aconteceu, ontem. Fiquei abismado com as massas de pessoas que se acumularam em duas das principais "mecas" do consumismo da capital, o Vasco da Gama e o Colombo, em horas inusitadas. O que me leva à pergunta. Será que toda aquela gente não trabalha - como eu que estou no desemprego - ou todos têm horários versáteis? Fico na dúvida até que alguém me responda.
Como não chegasse a confusão dentro dos espaços comerciais, na estrada ainda é maior. O Chico-Esperto é quem reina no asfalto de Lisboa e quanto mais esperto melhor. Não que seja um condutor inexperiente e incapaz de algumas manobras, mas não concordo com muito do que se vê na estrada. O que me leva a pensar que não é o álcool o principal problema da sinistralidade nas estradas. É a falta de civismo que mata.
Mas como é que podemos ser civilizados se temos pessoas no governo que pediram para apertarmos o cinto durante dois anos para cumprirmos o famigerado défice e agora estamos em risco de não cumprir com essa meta europeia porque o expediente encontrado não funcionou? O governo utilizou uma engenharia financeira - termo politicamente correcto para tentativa de enganar - de última hora. Tentou vender, foi criticado. Arrepiou um bocado o caminho e, afinal ia ceder património a título temporário. Além da confusão lançada nos institutos que ocupam os edifícios, o Eurostat não foi em cantigas e não permitiu esta engenharia financeira. Muitos devem pensar porque é que a cunha do Barroso não funciona. E pensarão ainda no negócio falhado da EDP comprar o Gás de Portugal e perguntarão. O Barroso não está a fazer nada por nós? Compreende-se a lógica dos nepotistas...
Mas a verdade é que Portugal está na iminência de ver as contas públicas chumbadas pela CE. E por uma estupidez. O governo já não sabia que tinha de recorrer a receitas extraordinárias para cumprir com os três por cento do défice? Se sabia porque é que não pensou numa alternativa no caso da malandrice do "lease-back" falhar, como falhou. Agora, afinal, vamos ter de alienar património ou então seremos sancionados pela CE. Tomo a alienação como certa, pois este governo santanista nunca mostrou imaginação e coordenação suficientes para ultrapassar o que fosse. Mas espero que tenham o bom senso para não mancharem mais a fraca imagem nacional no exterior. Alienem. A banca agradece, o povo é prejudicado mas não tanto como se não cumprirmos o défice, e as armas para o PSD ganhar as eleições ficam mais fracas. Parece que Deus escreve mesmo direito por linhas tortas.
Durante um dia como este, o que me safou foi o ar que respirei a ouvir a rádio Oxigénio em 102,6 FM. Vale a pena passar os ouvidos por aquela sintonia.
Carlos M. Gomes
terça-feira, 21 de dezembro de 2004
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2 comentários:
Por questões de ordem profissional tenho andado nos centros comerciais nas horas ditas laborais e a verdade é que estão sempre cheios de pessoas, se compram não sei.
Mas que muita gente passeia não tenho a duvida, "estão de férias"
OXIGÉNIO - sim senhor, bem-vindo ..........
Carlos,
Como sabes concordo pouco contigo na parte que falas da intitulada engenharia financeira. Já falámos sobre isso e sabes a minha opinião.
Condenas o facto de o governo não ter pensado numa alternativa em caso de falhanço do "lease-back", por acaso não sabemos ainda se pensou ou não, mas porquê tanto espanto?
Não te esqueças que estamos num país onde o PR primeiro destitui a AR (embora as criticas vão para o governo) apenas 4 meses depois de lhe ter dado posse, e faz ainda uma coisa mais estraordinária: cria um tabu e está 10 dias para explicar aos portugueses porque o fez.
Fazendo uma analogia: Porque é que o ministro das Finanças para um tema menor a meu ver (não te esqueças que a França e Alemanha tb no passado não cumpriram o défice) não pensou numa alternativa (??) e o PR para um tema tão importante como lançar o país na situação em que está tb não pensou numa alternativa? e precisa de 10 dias para pensar nas razões? e que razões apontou? são viáveis e correctas ou abrem um precedente nunca visto na nossa curta "democracia"?
Eu também não acho que o governo estivesse a ser brilhante, nem pouco mais ou menos, mas a diferença é que eu não o empossei...
Vou continuar atento ao teu blog e sempre que tenha tempo vou respondendo dentro do espírito construtivo que não pode deixar de traduzir a amizade que nos une.
Um forte abraço e bom natal para ti e para a Marisa.
Bébé
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