terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Um doce com sabor amargo

«Contamos como outrora. E por muito mais tempo ainda contaremos. É também evidente que gostamos de nos contar a nós próprios. Sabes o que me aconteceu ontem? Não? Ora ouve. E nós ouvimos. Muitas vezes até, quando vivemos com alguém, ouvimos pacientemente contar a mesma história a diversos amigos. Fazemos este amável sacrifício. Sabemos que ele (ou ela) gosta disso, de se colocar no centro de um relato. É um verdadeiro momento de existência.»
Ora, depois destas palavaras de Jean-Claude Carrière, ouçam lá esta estória que tenho para contar e que se passou ontem comigo e com a Marisa. É bem o exemplo do stress que a aquisição das prendas de Natal criam na maioria das pessoas.
Fomos às compras para abastecer o frigorífico e a despensa. Como não gosto de grandes confusões, enquanto a Marisa tratava dos víveres, fui ajudar uma amiga dela a comprar a prenda para o marido e a escondê-la. Cheguei ao supermercado mesmo na hora certa: a Marisa estava na caixa a pagar. Carro carregado, despensa e frigoríficos abastecidos. Pensei que aquele fastidioso processo tinha, este mês, corrido muito bem. Bem enganado estava. Depois do jantar, passei pela secção dos doces e retirei um Ferrero para adoçar a boca. Tinha sido eu a arrumar a caixa daqueles bombons. Degustei-o com todo o prazer. Sentei-me ao computador, quando a Marisa pergunta: «Carlos, onde é que está a caixa de Ferreros?». Respondi que estava ao pé dos outros doces. Ela retorquiu:«Mas não era para guardar, tenho de a levar amanhã para a troca de prendas no trabalho!» No cúmulo da minha inocência confessei-lhe que já tinha incertado a caixa. Foi vê-la espernear e refilar com a minha gula. Com alguma razão, mas não com toda. Podia ter avisado antes!
Ficamos em tal estado de tensão com as compras de Natal, que até esta minúscula caixa de bombons, a última prenda da longa lista, é elemento perturbador se tiver de voltar a ser comprada. A verdade é que as pessoas adoram as compras, mas não lhes peçam para repetir o processo tão depressa.

Carlos M. Gomes

2 comentários:

Anónimo disse...

E tem razão...
és um guloso do caraças.

Bébé

Anónimo disse...

é verdade e se tivesses comido os chocolates todos, agora so comeste um nao á direito.


bruno marques