Tenho pensado na vida e naquilo que algumas pessoas me têm feito. Não sou de ódios e acho que este conto que consta na Tertúlia de Mentirosos, de Jean-Claude Carrière, é uma boa forma de desculpar a natureza de algumas pessoas que, infelizmente, me surgiram pela frente. Reza assim a estória da rã e do escorpião, que Orson Welles contou no filme O Senhor Arkadin.
«Um escorpião, que desejava atravessar um rio, dirigiu-se a uma rã:
- Leva-me às tuas costas.
- Queres que te leve às minhas costas! - responde a rã - Nem penses! Se te levar às minhas costas, tu vais-me picar e matas-me.
- Não sejas estúpida - diz-lhe então o escorpião - Não vês que, se te picar, tu vais ao fundo e eu, que não sei nadar, afogo-me?
Os dois animais estiveram assim a discutir durante algum tempo e o escorpião mostrou-se tão persuasivo que a rã aceitou levá-lo a atravessar o rio. Carregou-o no seu dorso escorregadio, ele segurou-se e começaram a travessia.
Chegados ao meio do grande rio, onde se cavam os remoinhos, de súbito, o escorpião picou a rã. ESta sentiu o veneno fatal espalhar-se pelo seu corpo e. ao afundar-se, arrastando consigo o escorpião, disse-lhe:
- Vês? bem te disse! Olha o que fizeste!
-Que queres? - respondeu o escorpião antes de desaparecer nas águas glaucas. - É a minha natureza.»
Carlos M. Gomes
quarta-feira, 5 de janeiro de 2005
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