terça-feira, 4 de janeiro de 2005

Os nossos media

Na minha habitual leitura diária pelos jornais deparei-me com uma notícia intrigante. Não é que os títulos que mais cresceram no PSI-20 durante 2004 foram títulos relacionados com a comunicação social. A Impresa cresceu 68 por cento, enquanto a Media Capital ficou poucos pontos percentuais atrás. Para não falar da Cofina - que apesar de ir separar a vertente de media dos outros negócios ainda negociou media com o título Cofina durante 2004 -, que foi considerada uma das grandes sensações do ano transacto na bolsa de Lisboa.
Ora quer isto dizer que Pinto Balsemão, Paes do Amaral e Paulo Fernandes têm razão para estar felizes e de bolsos cheios. Mas não será isto um rude golpe na ladainha tantas vezes repetidas de que a comunicação social não dá dinheiro? Que o que se ganha, mal chega para pagar em condições aos jornalistas que todos os dias garantem que jornais, rádios e televisões continuem a produzir cada vez mais? E produz-se mais a cada ano, ao contrário do que seria lógico se a comunicação social não desse dinheiro.
Mas os ganhos chegam para os administradores dos grande grupos de media andarem a pavonear-se, assim como outros parasitas do trabalho dos jornalistas. Mas a culpa é destes últimos, que graças a uma paixão grande pela profissão se declararam incapazes de gerir. Por isso os media estão como estão. Os bem postos, defendem-se. Os outros vão entrando com fraca qualidade, pois trabalham com péssimos salários e até de borla. Com este ritmo não há quem aguente a paixão pela profissão e as contas para pagar. Isso faz com que o jornalismo, cada vez mais, seja uma profissão para os meninos ricos, que sem encargos, não se importam de trabalhar de borla ou por meia tuta. Os patrões agradecem, o público também não é tão exigente quanto isso e todos são felizes. Merecem-se.
Os erros são cada vez mais frequentes e mais gritantes. Mas isso não importa. Importa é vender publicidade e fazer dos jornalistas vedetas sem conteúdo como alguns leitores de notícias das televisões. E assim se vão enchendo os bolsos dos grupos de media nacionais. À base da falta de qualidade e fiados na falta de união da classe. Nem têm dinheiro para pagar ao mísero jornaleiro.

Carlos M. Gomes

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