sábado, 26 de fevereiro de 2005

Nasce uma vida na vida

Para ti que és ainda um feto
Esperamos por ti com amor
Esperamos que sejas recto
Estamos cá para viveres com fervor
Nesta vida de que todos se queixam
Há uns que complicam
E outros que não deixam
Vem com saúde e com um sorriso
Mas vem consciente
Que isto não é o paraíso
Mas não é inferno nenhum
Só tens de fazer
Para não seres simplesmente mais um
Vem trazer alegria e felicidade
Vem com todo prazer
Sê um menino/a corajoso/a
E sempre cheio de dignidade
Há na vida muita coisa para fazer
Cá estamos para te ajudar
Vem com todo o prazer
Acredita que o Mundo podes mudar!

Carlos M. Gomes

P.S. - Este poema é dedicado ao futuro filho/a da Cláudia e do Bruno pelos padrinhos babados.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

O que se passa

O que se passa? Pergunto várias vezes a mim mesmo. Gabriel García Márquez tem sempre a resposta na ponta da pena: «Lo que pasa es que uno no lo siente por dentro, pero desde fuera todo el mundo lo ve.»

Mais uma vez, obrigado Gabito.

Carlos M. Gomes

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Os portugueses

O metropolitano de Lisboa é um viveiro de situações. Hoje, sentou-se à minha frente um homem, aí com os seus 40 anos, todo vestido de ganga roçada, com um camisolão velho, de cor verde, por baixo do blusão. Com todo o ar de quem tinha terminado o seu trabalho, tomado um banho e vestido as roupas repetidas de sempre. Sentou-se. O Metro arranca e o indivíduo sacou de um telemóvel de última geração. Um anacronismo, como se um homem da idade da pedra andasse com um relógio de pulso da Seiko. Desde o Saldanha até ao Senhor Roubado navegou pelo menus sem bem perceber para que é que servem as suas potencialidades. Nem fez um jogo ou escreveu uma mensagem.
Claramente, aquele foi o "high-light" do seu dia: mostrar perante os outros que tem um telemóvel de última geração. Típico dos portugueses. Têm uma casa de largos milhares de contos, mas depois não têm dinheiro para a comida e chegam a não ter para pagar a referida casa. Têm um carro último modelo, mas está estacionado à frente do prédio, porque não têm dinheiro para o combustível. Vâo de férias para sítios exóticos... e pagam a crédito. Mas sentam-se a falar com os amigos e dizem: «A minha casa é um espectáculo, o meu telemóvel tem tudo e é pequeno, as minhas férias foram o máximo e estou a pensar em comprar um BMW dos novos...» E os outros que tais, invejam o seu amigo.
É assim! Somos um povo pouco inteligente, com a mania das grandezas e muito invejoso, que prefere ter a ser...

Carlos M. Gomes

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

Combater a inveja

José Gil é considerado um dos 25 maiores pensadores do Mundo. É português, é muito bom, logo é invejado, como tantos outros portugueses de mérito. Aqui fica uma frase sua publicada na revista do DN, "Notícias Magazine", num contexto de análise ao nosso país:
«A única maneira de combater a inveja é afirmar-se a si próprio na sua máxima singularidade.»

Carlos M. Gomes

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

O futuro é PS. Assim o decidiram...

Os portugueses foram ontem a votos e deram uma maioria absoluta a José Sócrates. Quebrou-se o mito de que a esquerda não podia ter uma maioria absoluta. Mas tenho reservas. Vamos ver o que dá. Para já, o futuro é PS. A mensagem de optimismo agradou-me, mas falta ver se o novo governo tem força para passar esse optimismo das palavras aos actos.

Carlos M. Gomes

sábado, 19 de fevereiro de 2005

O futuro

Hoje, sábado, dia 19 de Fevereiro, é dia de reflexão para as eleições legislativas de amanhã. Seja o que Deus quiser...

Carlos M. Gomes

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Um pouco mais de Aleixo

O meu querido analfabeto que escreveu tanto e tão bem:

«Sem ter chicote nem vara
Manda-me a minha razão
Atirar versos à cara
Dos que me roubam o pão.»

«As quadras mal acabadas
Sem terem regra nem norma,
São beijos, são chicotadas,
Que não sei dar de outra forma.»

«A quadra tem pouco espaço;
Mas eu fico satisfeito,
Quando numa quadra faço
Alguma coisa com jeito.»

Carlos M. Gomes

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

Descubrí...

Uma lição de Gabriel García Márquez acerca da imperfeição na mente daqueles que procuram essas ilusões da perfeição e do amor. Escrito no seu mais recente romance, "Memorias de Mis Putas Tristes":
«Descubrí que mi obsesión de que cada cosa estuviera en su puesto, cada asunto en su tiempo, cada palabra en su estilo, no era el premio merecido de una mente en orden, sino al contrario, todo un sistema de simulación inventado por mí para ocultar el desorden de mi naturaleza. Descubrí que no soy disciplinado por virtud, sino como reacción contra mi negligencia; que parezco generoso por encubrir mi mezquindad, que me paso de prudente por mal pensado, que soy conciliador para no sucumbir a mis cóleras reprimidas, que sólo soy puntual para que no se sepa cuán poco me importa el tiempo ajeno. Descubrí, en fin, que el amor no es un estado del alma sino um signo del zodíaco.»

Obrigado Gabito!

Carlos M. Gomes

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Carolos e abrunhos

A boçalidade dos meus concidadãos não pára de me arrasar. Hoje, ia eu no metropolitano de Lisboa, quando se sentou a meu lado um indivíduo, aí com perto de 50 anos, a falar em voz alta com o seu amigo que se sentou em frente. A conversa começou logo por «qualquer dia dou-lhe um carolo de mãos abertas para sentir as unhas no cérebro!» Tudo bem. Pensei. É um gajo agressivo a falar em bater noutro. Mas a conversa continuou. «Ela põe-me em brasa e depois leva nos cornos.» Afinal bate na mulher, concluí. «No outro dia, estava lá em casa a irmã dela -- da mulher -- quando ela -- a mulher -- começou a armar-se em grande para mim. Disse-lhe: "Olha, tens os chinelos ao contrário!". Ela baixou a cabeça e levou logo um abrunho nos cornos. A outra não disse nada. Se dissesse, tinha de a pôr na rua!» Fiquei impressionado, não por saber que ainda há mulheres que aturam grunhos destes, mas porque ele contou aquilo numa composição cheia de mulheres do femininismo. Ninguém disse nada.
Felizmente os dois indivíduos saíram nas Picoas e o ambiente ficou mais desanuviado. As mulheres todas, medrosas, ficaram a morrer de medo do tipo. Parecia que tinham sido elas a levar os «abrunhos» ou os «carolos de mãs abertas para cravar as unhas no cérebro». Mal por mal, acho que prefiro ir de carro a levar com os tugas amantes da faixa do meio nas auto-estradas. Pelo menos não os ouço...

Carlos M. Gomes

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

A faixa do meio

Todas as vezes que tenho de viajar de carro pelas auto-estradas portuguesas é um tormento. Não porque encontre muitos condutores bêbados, em excesso de velocidade ou alguns acidentes que paralisam o trânsito. Mas sim porque numa via de três faixas, em que a mais à esquerda é para os muito rápidos (160 km/h para cima) e a mais à direita é para quem segue mais à risca o código, a faixa do meio seja a mais utilizada. Não porque a da direita esteja cheia, mas sim por uma questão de «eu sou rápido e não encosto à direita; essa é para as lesmas». Por uma questão de serem marrões, os tugas preferem a do meio -- se calhar é por se dizer que aí é que está a virtude, não sei! Mas verdade é que estorvam quem segue em ritmo normal (dentro dos 140 km/h) e não se quer meter em correrias pela esquerda, nem adormecer à direita. É a falta de civismo no seu melhor.

Carlos M. Gomes

P. S. - Esta conversa toda de direita e esquerda não tem nada a ver com a campanha eleitoral, muito menos as siglas deste post scriptum...

sábado, 12 de fevereiro de 2005

Ser ordinário

Só me apetece ser ordinário. Oscar Wilde ajuda-me a não ser ordinário a escrever como posso ser a falar:

- «É considerado ordinário falarmos de coisas nossas. As únicas pessoas que o fazem são os accionistas, e mesmo assim só em jantares.»

- «O que é ordinário é a conduta dos outros.»

- «Que hábito ordinário nos dias que correm [ainda são os nossos], o de nos perguntarem sempre, após termos dado uma ideia, se estamos ou não a falar a sério! Nada é sério excepto a paixão.»

Carlos M. Gomes

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

Jornalistas cobardes

Como é que podem existir jornalistas tão cobardes? Mas existem e estão disseminados pelas redacções dos melhores jornais portugueses. A escrever e a perguntar coisas incómodas nas conferências de imprensa são os maiores, mas como homens deixam muito a desejar... Mais um episódio triste. É a vida...

Carlos M. Gomes

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Infidelidade

Infidelidade
Ou mundo do desejo
Resume-se ao sexo?
Ou à paixão sem nexo
À pura ilusão
Ao egocentrismo
Ao homem machão
À mulher do femininismo
Tudo à roda, em órbita
Tudo se toca
Mas tudo se engana
Para uns é só cama
Para outros é algo mais
Algo que os desengana
Dos comuns mortais
Infidelidade
Nem sempre é infelicidade
Também é saudade
De morrer de paixão
Num sonho de Verão
Repleto de aventuras
Cheio de emoções
Às vezes dura
Às vezes parte corações
A infidelidade entre pessoas
Não é infidelidade interior
É fragilidade com que magoas
É seres fiel ao teu amor

Carlos M. Gomes

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

Curiosidades diárias e não só...

Hoje foi feriado de Carnaval. Um país inteiro a celebrar a crise. A campanha eleitoral, um outro carnaval, era para abrandar. Mas o jornal "Público" animou as hostes com a notíca de que Cavaco Silva quer uma maioria absoluta do PS, à semelhança do que disse Freitas do Amaral. Com a diferença de que este último manteve a teoria nas próprias palavras e o professor de Boliqueime já veio desmentir o alegado apoio ao PS, mas através de fonte próxima e não de viva voz. Não deixa de ser curioso este piscar de olho de monstros sagrados da direita ao eleitorado de esquerda com o claro intuito de colher frutos por altura das presidenciais.
Tenho seguido a campanha através dos jornais e de vários blogs. É mais calmo, as ideias são mais bem contextualizadas. O Abrupto, é já referência antiga, mas o blog de campanha escrito pelos jornalistas da SIC que seguem os candidatos também é interessante, se bem que levante uma certa questão ética. Para quem gosta das coisas com um pouco de humor o Blogotinha é uma alternativa a ter em conta. Era para ser um Carnaval sem campanha, mas os palhaços não resistiram...

Carlos M. Gomes

terça-feira, 8 de fevereiro de 2005

Os amigos e os "amigos"

Há meses que ando na cabeça com uma ideia sobre como filtrar os verdadeiros amigos. Costuma dizer-se que nas horas más é que se vêem. Até há pouco tempo pensei assim, mas no passado fim-de-semana tive uma iluminação ao ler uma entrevista ao escritor Mário Cláudio, na revista "Notícias Magazine" do DN. Ele diz: «Os amigos que estão connosco nos momentos de alegria são os verdadeiros amigos. São muito mais amigos os que partilham alegrias do que os que partilham tristezas.» Depois de ler isto e de ter reflectido sobre o assunto, chego à conclusão de que o Mário Cláudio tem razão.
Os "amigos" que estão connosco nas horas más, nunca se sabe se depois não fazem um exercício de exorcização dos seus males através da nossa pessoa. Esses dizem: «Deixa lá. Há pior!» Raríssimos são aqueles que partilham uma alegria nossa sem a invejar e desejar para eles próprios. Os que conseguem partilhar uma alegria, de forma sincera, honesta e íntegra, com um amigo são os verdadeiros. Os outros... Bem, os outros são só os outros!

Carlos M. Gomes

sábado, 5 de fevereiro de 2005

A careca e o verso do Aleixo

Depois de uma semana estafante, aqui ficam dois bocadinhos do oásis de António Aleixo:

«Uma mosca sem valor,
Pousa co'a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.»

«Não se meta comigo em verso
Que nada pode fazer;
Olhe que eu não sou perverso,
Mas em verso posso ser.»

Carlos M. Gomes

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005

Podes mudar o Mundo?

Aqui há dias, ia eu no metropolitano de Lisboa, quando me despertou a atenção a conversa entre um grupo de estudantes. Ela, a única rapariga do grupo, falava alto e batia-se pelos seus argumentos. Alegadamente, um professor de filosofia que não gostou das suas ideias disse-lhe: «Se eu exercesse cargos de maior competência nesta escola, irias ter muitas dificuldades!». Ela não gostou e retorquiu: «Está-me a chantagear?».Resumidamente era este o tema da conversa.
A certa altura, a rapariga sentou-se em frente a um colega, para aí com os seus 16/17 anos. Ele, com uma posição mais calma, disse-lhe uma frase dilacerante, pelo menos para mim: «Achas que vais mudar o Mundo?» Ele, óbvio, acha que isso é impossível. Ela não. Eu já achei mais possível, mas tenho quase 30 anos e muita pancada no corpo e na alma, mas um miúdo de 17 anos ter para si que não pode mudar o Mundo?! Se há altura na vida de uma pessoa em que esse sentimento é legítimo, é precisamente nessas idades.
Esta é a juventude que temos. Se não acreditam que podem mudar este mundo agora, quando é que vão acreditar? Ela acredita. Isso explica porque as mulheres são cada vez mais dominantes. Se calhar, ainda bem que é assim...

Carlos M. Gomes

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

Quero um castigo dos deuses

Oscar Wilde é que disse:
«Recordo-me de ter lido, em algum estranho volume, que quando os deuses desejam castigar-nos, fazem-no respondendo às nossas preces.»

Carlos M. Gomes

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Doce, quente e branda manhã

Doce, quente e branda manhã
Dia de sonhos vãos
De estranhas ambições
Doce, quente e branda manhã
Que banha todos os corações
Inunda-os de esperança
Afoga a vingança
E leva-nos a crer que
nem tudo é sofrer
Doce, quente e branda manhã
Leva-me a alma até onde puderes
Ao fundo de um sonho
Em expirais estontentes
Leva-me de novo
A ser um puto risonho
Doce, quente e branda manhã

Carlos M. Gomes

terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

O desejo que nos podemos conceder

Todos já tivemos vontade que nos aparecesse um génio da lâmpada e nos concedesse três desejos. Eu próprio pensei no que pediria. Na «Tertúlia de Mentirosos» vem o exemplo supremo daquilo que que, na minha opinião, se pode pedir. Mas acho que não é preciso um génio da lâmpada vir ter connosco. É apenas uma questão de bom senso para vencer a nossa preguiça. Aqui fica o conto do pescador sob o título, "O Melhor desejo":
«O génio libertado diz ao pescador:
- Formula três desejos que eu os executarei. Qual é o teu primeiro desejo?
- Ei-lo - disse o pescador. - Quero que me tornes suficientemente inteligente para que possa escolher na perfeição os dois desejos seguintes.
- Concedido - disse o génio. - E agora, quais são os teus outros desejos?
O pescador reflectiu por um momento e respondeu:
- Obrigado. Não tenho mais desejos.»

Carlos M. Gomes