quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Um Olhar novo


Olhar português*
Por Carlos Matos Gomes
Jornalista
http://www.suburbanu.blogspot.com/
Caro leitor, nesta página da Revista Brasil vou tentar ser um advogado de Portugal. Vou contar tudo o que saiba sobre o meu país, sobre o Brasil, sobre as suas diferenças e no que eles se transformam quando se misturam...
Falar de Portugal para quem cá está vindo de outras paragens é tarefa complicada, pois poderei cair algumas vezes na tentação de ser juiz em causa própria. No entanto, mesmo correndo este risco, aceito de bom grado explicar o meu país na medida das minhas limitações. Poderia começar por falar do clima ameno, dos muitos quilómetros de costa que temos, onde tantos brasileiros e brasileiras se instalaram para sentirem mais perto o outro lado do oceano. Também podia apelar para as raízes comuns que a história – boa ou má – se encarregou de deixar em dois países tão afastados, mas sempre próximos por força dos achamentos de 1500. Mas optei por, nesta primeira crónica noutros moldes e noutro fulgor da Revista Brasil, enveredar por algo que portugueses e brasileiros têm em comum, embora com estilos muito distintos: o gosto por comunicar.
Nos dois lados do Oceano o gosto por falar, por contar, por dizer é muito grande e isso é uma ligação comum que temos, que não podemos mandar fora. É certo que nós portugueses somos mais cinzentos, menos expressivos em quase tudo. Mas também é verdade que conseguimos coisas maiores que nós mesmos, criando espaço e condições para que todos os que cá estão, assim como para os que vêm. Temos a humildade de aceitar a alegria que vem do Brasil, seja através do futebol, das novelas ou da música. Estes são os três maiores temas em comum entre os dois países, com vantagem para o Brasil que exporta mais do que importa. No final, as contas dizem que todos ficamos satisfeitos, porque num curto rectângulo como o mapa português conseguimos proporcionar uma variedade muito grande, utilizando a mistura entre o samba brasileiro e o fado potuguês.
Podemos, às vezes, viver em países diferentes, mas a grandeza da alma não conhece fronteiras. Vou falar de Portugal para você e pergunto, por que é que é bom viver aqui? Não conheço resposta curta para caber numa página. Vou ter a oportunidade de o fazer durante os próximos tempos junto consigo, neste espaço que é seu através de mim. Além das pistas que dei no início deste texto, deixo aqui outra sensação que tenho: o povo lusitano ainda é dos mais simpáticos e afáveis desta Europa cada vez mais fria nos relacionamentos, embora sonhe com o calorzinho humano que nós vamos aqui tendo. E tanta cor tem ganho Portugal com a vinda de gente diferente, mais alegre, mais de bem com a vida, mesmo a trabalhar muito para a ganhar!


*Crónica publicada na Revista Brasil, em Fevereiro 2008, num novo lançamento da publicação a nível nacional. Com este texto chega ao fim o espaço «Estórias que me contaram» na mesma publicação. Em breve sairá uma compilação desses textos já publicados.