terça-feira, 31 de maio de 2005

quinta-feira, 26 de maio de 2005

Há outros dias

Há dias que um homem de manhã, à tarde, não devia de sair à noite!

Carlos M. Gomes

terça-feira, 24 de maio de 2005

O refúgio dos maus

António Guterres foi ontem escolhido como próximo alto-comissário do ACNUR (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). Depois de Durão Barroso, o fugitivo, ter escapado do país em tanga para Bruxelas (presidência da Comissão Europeia), eis a vez de outro fugitivo ser presenteado com um alto cargo internacional. Não deixa de ser engraçado, e até irónico, que os dois "pais" do défice de 6,83 por cento de Portugal, tenham visto reconhecidas as suas qualidades no plano internacional. Só falta agora que Vítor Constâncio, actual governador do Banco de Portugal, seja presenteado com um cargo no FMI (Fundo Monetário Internacional) para que a trilogia, tão do agrado lusitano, fique completa. É que Constâncio é o "padrinho" do défice. Foi conivente com tudo o que os anteriores governos fizeram e agora surge como virgem ofendida a dizer que o défice é grande...
Voltemos ao assunto Guterres. Vai ter questões muito delicadas pela frente, resta saber se vai ter a coragem necessária para as enfrentar a sério ou se vai ocupar o cargo para ser como a rainha de Inglaterra.
Aqui fica uma das questões: a Coreia do Norte. Kim Il Sung, ditador daquele país, além de deter poder nuclear, vai chacinando bebés e matando a bel-prazer. Aqui fica um episódio contado por David Hawk, antigo director da delegação da Amnistia Internacional nos EUA, em entrevista à Grande Reportagem: «Há, por exemplo, o caso de uma mulher de 66 anos que fugiu para a China em 1997 com o seu marido e cinco das suas crianças. Foi depois repatriada. (...) Demasiado fraca e velha para trabalhar(...) foi encarregada de prestar assistência às mulheres grávidas. Ajudou nos partos de sete bebés, todos eles posteriormente mortos. Após um dos partos, preparava-se para limpar o recém-nascido quando foi impedida por um dos guardas, que o pegou por um pé e o atirou para uma caixa.(...) Quando a caixa ficou cheia de bebés, os guardas levaram-na para a rua e queimaram-na.»
Perante isto, quem tem lata de se preocupar com o défice? Ou com as desconfianças de Ferreira Leite em relação ao cálculo do mesmo? Ou com as heranças do défice que provavelmente nos levarão até à Monarquia, passando por Salazar, como diz Filipe Rodrigues Silva, do Diário Digital?

Carlos M. Gomes

segunda-feira, 23 de maio de 2005

Benfica até no céu

Demorou onze anos. Foi uma espécie de feitiço que no passado fim-de-semana se quebrou. O Benfica voltou a ser campeão nacional. Encheu de alegria milhões de portugueses. E deixou outros tantos loucos de raiva.
O campeonato foi muito disputado, por baixo na minha opinião, mas o Glorioso acabou por ser o menos irregular entre os crónicos candidatos. Venceu com justiça e muito sofrimento. Eu duvidei que ganhasse, mas ganhou. Trapattoni, um técnico italiano defensor do "catenaccio", por ironia foi quem levou o Benfica de novo aos píncaros. Nunca concordei com a forma como as suas equipas jogam. E continuo sem concordar. Mas como um amigo meu me disse há umas semanas: «O que interessa ao Benfica, agora, é ganhar, o futebol bonito vem depois.» Tive de concordar.
Sem a pressão de ter de ganhar, sob pena de a travessia do deserto ser mais longa, o Benfica tem, agora, condições para evoluir para um futebol mais espectacular, que faça com que as pessoas que pagam para ir ver os jogos se sintam recompensadas. Sim, porque é possível vencer e jogar bom futebol. A "velha raposa" não acredita nisso, mas justiça lhe seja feita, geriu muito bem um plantel curto e com óbvias limitações de qualidade de jogadores. Não se lhe podia pedir muito mais. Ou podia?
A festa saiu à rua após o empate - não poderia deixar de ser um empate - com o Boavista. Fui à nova Luz comemorar com outros 55 mil adeptos o primeiro campeonato daquela Catedral. Foi lindo!! Arrepiei-me. E não pude deixar de ter sempre presente na memória uma pessoa: a minha falecida tia Natália. Foi ela quem me inculcou o benfiquismo. Foram anos a fio a ir à bola com ela. Ver o Glorioso. Ela viu o título a ser comemorado lá de cima, do céu. Acredito que tenha sido uma estrelinha do Benfica durante esta temporada. Este campeonato também é teu tia...

Carlos M. Gomes

sexta-feira, 20 de maio de 2005

O Estado da Nação

Neste prelúdio da desgraça que se vive actualmente, os cenários catastróficos são desenhados ao ritmo das necessidades mediáticas por vários comentadores e aspirantes a políticos -- se calhar a divisão entre estes dois nem faz sentido. Contudo, o governo mantém-se em silêncio quase sepulcral. Um silêncio que não deixa antever nada de bom para quem espera ouvir alguma coisa. Não estou a falar dos seus pares da oposição, que anseiam, como abutres, cair em cima das medidas drásticas que parecem inevitáveis. Vão criticar tudo, mas fica aqui a pergunta. O que fariam se fossem governo? A mesma "merda" -- pardon my french -- que fizeram durante três anos, em que as palavras crise e contenção andaram de braços dados? Uma contenção e uma crise que Barroso, o fugitivo, disse serem necessárias para respeitarmos o malfadado PEC imposto pelos senhores europeus. Afinal, após três anos de governo social-beto-demagogo-mediático-democrata, chegámos à conclusão que a contenção e a crise serviram só para encapotar as maningâncias financeiras e contabilísticas de última hora feitas por Bagão Félix. Respeitámos os três por cento de défice impostos pelo PEC.
Tomou posse o PS e, afinal, o défice é de 6,83 por cento, de acordo com o relatório Constâncio. Não fica bem ao novo governo, à laia de dirigentes do futebol, dizer que a situação vai ser complicada porque "herdaram" um défice pior. Cabe aos novos dirigentes políticos inverter essa tendência do que vem atrás que feche a porta. Não vale a pena perderem-se em discursos políticos a pensar nas eleições autárquicas e presidenciais. Não é isso, em última instância, que serve Portugal. Os partidos têm de perder a mania de que os seus interesses são maiores e mais urgentes que os do próprio país que, alegadamente, servem.
Espero ouvir, a partir da próxima semana, notícias a darem conta do aumento dos impostos, do corte no investimento público, de ter de se recorrer a receitas extraordinárias. Até estou preparado, se bem que mal, para o aumento dos impostos sobre os produtos petrolíferos. Mas que o PS saiba o que está a fazer. Que não se guie só pelo desejo de cumprir o PEC. Que não hipoteque o futuro de uma geração de jovens portugueses que está a ser coarctada de oportunidades. Que pense que está no poder para servir e não para se servir.
Quebrem o silêncio e façam sair essas medidas, mas que tenham um discurso e uma prática optimistas em relação a um futuro breve. Mudem o disco do fado para outra música mais alegre, mas mais consciente e menos dada a emoções e resoluções de última hora. Pensemos em reestruturar o país a sério e sem medos de penalizações em eleições. Portugal é maior do que os senhores dos palácios ou da Assembleia da República!

Carlos M. Gomes

quinta-feira, 19 de maio de 2005

Porquê? Parte II

O coração dos incautos sofre mais.

Carlos M. Gomes

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Perder em casa

O Sporting perdeu a final da Taça UEFA, a jogar no seu estádio, frente ap CSKA de Moscovo. Esteve a ganhar, por 1-0, com um grande golo de Rogério, mas não foi suficiente, pois os russos marcaram três na segunda parte. Fica a boa temporada nas competições internacionais e até internamente. Isto, diz-nos a memória a curto prazo. A longo prazo, o que se vai recordar é que o Sporting perdeu o campeonato -- após derrota com o Benfica no Estádio da Luz -- e a Taça UEFA em apenas quatro dias.
Não mereciam esta crueldade. José Peseiro é um bom treinador, mas faltou-lhe a "estrelinha" de campeão, que também lhe faltou quando foi adjunto de Carlos Queiroz no Real Madrid.
Perder as duas competições em que esteve envolvido até ao final é uma grande desilusão. A razão, pela voz do presidente Dias de Cunha, diz que o técnico vai continuar para a próxima temporada. Mas a emoção, na boca dos adeptos, é capaz de ditar sorte diferente. E o próprio Peseiro sabe que a sua situação é insustentável. Tem que saber que as palmas dos adeptos leoninos no final do jogo com o CSKA foram para os jogadores, como sempre foram. Para si, os adeptos reservaram o desagrado quando fez uma substituição quando já se antevia o pior. Tirou João Moutinho, a nova coqueluche de Alvalade, e fez entrar Hugo Viana. Ouviu assobios. E vai ouvir mais, até que saia... É pena! Merecia outra sorte.

Carlos M. Gomes

Porquê?

Desilusão por ingenuidade.

Carlos M. Gomes

segunda-feira, 16 de maio de 2005

A hipocrisia da exploração

O preço do barril de petróleo atingiu hoje o mínimo de três meses, uma tendência que se tem vindo a acentuar. Melhor, a OPEP (Organização de Países Exportadores de Petróleo), anunciou que até final do ano vai conseguir aumentar a produção, o que normalmente resulta na baixa dos preços do crude nos mercados bolsistas.
Se o cenário é de baixa do preço, por que é que os combustíveis em Portugal continuam em alta? Dizem as gasolineiras que o crude é um futuro e que têm de esperar pela consolidação da tendência de queda do preço do crude para depois baixar os preços de revenda. Mas quando é para subir não esperam por consolidação da subida do ouro negro. Porque será? E porque nos mantemos calados?

Carlos M. Gomes

sábado, 14 de maio de 2005

Sexta-feira

Os semblantes, em qualquer escritório, mudam à sexta-feira. As pessoas entram com outra disposição. Sentem o prelúdio do fim-de-semana, entram na ante-câmara do prazer desejado com todas as forças durante cinco dias de trabalho. É a esperança de vida que renasce. Porque durante a semana a vida não existe para eles. É só cumprir calendário. E fica a pergunta: não é uma estupidez andarmos a desejar que aqueles cinco dias passem rápido? É que já não voltam e não foram vividos com a intensidade merecida.

Carlos M. Gomes

sexta-feira, 13 de maio de 2005

A frase de engate para a minha Marisa

To pick up Marisa: Am I dead Angel? Cause this must be heaven!




Queres saber qual é a frase para engatar a tua? Clica no link acima para ires directamente à Blogthings.

Carlos M. Gomes

Falta de tempo

Por falar em falta de tempo, aqui fica um excerto do "Pequeno Livro do Tempo", de Jacob Needleman: «Um homem ou uma mulher adultos podem ter de andar muito depressa e de fazer muitas coisas, mas nunca estão com pressa. Ah, então era isso que Aristóteles queria dizer!»

Carlos M. Gomes

terça-feira, 10 de maio de 2005

Procedimentos

Sem eles nada faria sentido nas linhas de montagem modernas a que chamamos locais de trabalho.

Carlos M. Gomes

segunda-feira, 9 de maio de 2005

"Ripa na rapaqueca!"

Este foi um fim-de-semana triste. Morreu o Sr. Jorge Perestrelo, uma das minhas referências de infância. O homem que dava mais vida ao futebol em particular e ao desporto em geral. O relato de futebol sempre foi, para mim, um sonho, um Olipmo inantigível. Ainda hoje, quando ouço os meus colegas da rádio a "cantar" um jogo de futebol me emociono. Um golo é um golo, mas na rádio é mais golo. O Jorge cantava-o como poucos. Era irreverente, utilizava expressões que vão ficar para sempre, como o "ripa na rapaqueca", ou o "que é que é isso ó meu?", ou ainda o "até eu com esta barriguinha marcava essa porcaria". Além da sua arte, tinha o condão de ser um não alinhado. Dizia o que os outros só diziam -- dizem -- em voz baixa e pagou muito caro essa veleidade.
Conheci-o em 1999, quando acompanhei o Benfica à Suécia, num jogo frente ao Halmstads (Halmstads - Benfica = 2-1, 2-2) a contar para a primeira eliminatória da Taça UEFA. Durante os quatro dias que privei com ele, ficou-me a memória de uma pessoa truculenta, mas honesta; controversa, mas com sentido; mas fica-me, sobretudo, o grande prazer de ter estado ao pé, de ter ouvido um relato ao vivo de uma referência dos relatos de futebol. Não ficámos amigos nem nada que se parecesse. Vi-o muitas vezes depois dessa experiência nórdica. Trocámos alguns cumprimentos cordiais, mas nada mais. É sempre bom manter a distância dos mestres. Foi o que fiz.
Gritou o último golo com as cores do Sporting. Aquele que deu o acesso à final da Taça UEFA. Foi uma despedida digna dele.
Adeus Sr. Jorge Perestrelo. Vou sentir falta.

Carlos M. Gomes

quinta-feira, 5 de maio de 2005

Não dá o Benfica, pode dar o Sporting

Hoje o Sporting conseguiu chegar à final da Taça UEFA. Foi um jogo de sofrimento frente ao AZ Alkmaar, na Holanda. A equipa portuguesa saiu derrotada, por 2-3, mas com a vantagem na eliminatória. Depois de um dia chato, só mesmo um feito destes para me arrancar um sorriso a caminhar sozinho na rua.
Na final vai estar o CSKA Moscovo, ironicamente, a equipa que afastou o meu Benfica desta competição. Espero que o Sporting ganhe e me dê um prazer que o meu clube nunca me deu desde que nasci: ganhar uma competição europeia. Que me perdoem os meus ferrenhos amigos benfiquistas e os conservadores leoninos, mas dia 18 de Maio vou torcer do fundo do coração pelo Sporting. E relembro aqui o que disse há algumas semanas, citando o Torres: «Deixem-me sonhar!»

Carlos M. Gomes

terça-feira, 3 de maio de 2005

A liberdade que temos

Hoje foi assinalado o Dia da Liberdade de Imprensa. Deu-me vontade de rir. Tendo em conta o que se passa em Portugal, onde não há guerras, nem conflitos dessa monta, a liberdade de imprensa é uma miragem, um engodo pós-25 de Abril. A imprensa nada mais é hoje, em Portugal, do que o fraco substituto de uma opinião pública. Uma opinião pública que fortaleça a sociedade civil.
Hoje, só quem aparece é que é gente. Os imbecis dos reality-shows não passam despercebidos em lado nennhum. As pimpinhas, as cinhas, as lilis caneças, as pequeninas rodrigues e outros sucedâneos mal conseguidos de uma elite proliferam. Dão a imagem de que aquela gente é que é referência.
Na rua poucas pessoas sabem, por exemplo, quem é Teresa Patrício Gouveia, a administradora da Gulbenkian. Uma mulher que muito fez, e faz, pela nossa cultura. Ninguém fala dela nos autocarros. É um exemplo entre muitos.
Por isso, voltando ao tema principal, a liberdade de imprensa degenerou numa loucura mediática que nos consome e nos fecha no mundo, dando a sensação contrária. Rouba o tempo para pensar, não deixa mesmo espaço para a reflexão. Conduz-nos a um processo de estupidificação.
Não são palavras novas as minhas. Podia também falar dos grande grupos de comunicação social, que vêm os lucros a crescer sumptuosamente à conta de redacções infestadas de jornalistas de aviário, sem massa crítica, uma série de seguidistas que tudo fazem para segurar o tacho. Enfim, é tema para outro post. Mas aqui fica a pergunta: É esta liberdade sem luz ao fundo que nós queremos. Eu não!

Carlos M. Gomes

segunda-feira, 2 de maio de 2005

Aqui vos deixo três do Aleixo

Um poeta que me deixa sempre muita saudade. Um homem simples. Um homem do povo. Um homem como a maioria de nós:

«A fome, a dor, a tristeza
São - por nossa inf'licidade -
O preço por que a pobreza
Paga a sua honestidade

Neste mundo, onde sobejam
Os homens de pouco siso,
Talvez os malucos sejam
Os que têm mais juízo

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!»

Escreveu estas quadras há décadas, mas ainda hoje o algarvio tem razão.

Carlos M. Gomes