terça-feira, 24 de maio de 2005

O refúgio dos maus

António Guterres foi ontem escolhido como próximo alto-comissário do ACNUR (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). Depois de Durão Barroso, o fugitivo, ter escapado do país em tanga para Bruxelas (presidência da Comissão Europeia), eis a vez de outro fugitivo ser presenteado com um alto cargo internacional. Não deixa de ser engraçado, e até irónico, que os dois "pais" do défice de 6,83 por cento de Portugal, tenham visto reconhecidas as suas qualidades no plano internacional. Só falta agora que Vítor Constâncio, actual governador do Banco de Portugal, seja presenteado com um cargo no FMI (Fundo Monetário Internacional) para que a trilogia, tão do agrado lusitano, fique completa. É que Constâncio é o "padrinho" do défice. Foi conivente com tudo o que os anteriores governos fizeram e agora surge como virgem ofendida a dizer que o défice é grande...
Voltemos ao assunto Guterres. Vai ter questões muito delicadas pela frente, resta saber se vai ter a coragem necessária para as enfrentar a sério ou se vai ocupar o cargo para ser como a rainha de Inglaterra.
Aqui fica uma das questões: a Coreia do Norte. Kim Il Sung, ditador daquele país, além de deter poder nuclear, vai chacinando bebés e matando a bel-prazer. Aqui fica um episódio contado por David Hawk, antigo director da delegação da Amnistia Internacional nos EUA, em entrevista à Grande Reportagem: «Há, por exemplo, o caso de uma mulher de 66 anos que fugiu para a China em 1997 com o seu marido e cinco das suas crianças. Foi depois repatriada. (...) Demasiado fraca e velha para trabalhar(...) foi encarregada de prestar assistência às mulheres grávidas. Ajudou nos partos de sete bebés, todos eles posteriormente mortos. Após um dos partos, preparava-se para limpar o recém-nascido quando foi impedida por um dos guardas, que o pegou por um pé e o atirou para uma caixa.(...) Quando a caixa ficou cheia de bebés, os guardas levaram-na para a rua e queimaram-na.»
Perante isto, quem tem lata de se preocupar com o défice? Ou com as desconfianças de Ferreira Leite em relação ao cálculo do mesmo? Ou com as heranças do défice que provavelmente nos levarão até à Monarquia, passando por Salazar, como diz Filipe Rodrigues Silva, do Diário Digital?

Carlos M. Gomes

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