sexta-feira, 20 de maio de 2005

O Estado da Nação

Neste prelúdio da desgraça que se vive actualmente, os cenários catastróficos são desenhados ao ritmo das necessidades mediáticas por vários comentadores e aspirantes a políticos -- se calhar a divisão entre estes dois nem faz sentido. Contudo, o governo mantém-se em silêncio quase sepulcral. Um silêncio que não deixa antever nada de bom para quem espera ouvir alguma coisa. Não estou a falar dos seus pares da oposição, que anseiam, como abutres, cair em cima das medidas drásticas que parecem inevitáveis. Vão criticar tudo, mas fica aqui a pergunta. O que fariam se fossem governo? A mesma "merda" -- pardon my french -- que fizeram durante três anos, em que as palavras crise e contenção andaram de braços dados? Uma contenção e uma crise que Barroso, o fugitivo, disse serem necessárias para respeitarmos o malfadado PEC imposto pelos senhores europeus. Afinal, após três anos de governo social-beto-demagogo-mediático-democrata, chegámos à conclusão que a contenção e a crise serviram só para encapotar as maningâncias financeiras e contabilísticas de última hora feitas por Bagão Félix. Respeitámos os três por cento de défice impostos pelo PEC.
Tomou posse o PS e, afinal, o défice é de 6,83 por cento, de acordo com o relatório Constâncio. Não fica bem ao novo governo, à laia de dirigentes do futebol, dizer que a situação vai ser complicada porque "herdaram" um défice pior. Cabe aos novos dirigentes políticos inverter essa tendência do que vem atrás que feche a porta. Não vale a pena perderem-se em discursos políticos a pensar nas eleições autárquicas e presidenciais. Não é isso, em última instância, que serve Portugal. Os partidos têm de perder a mania de que os seus interesses são maiores e mais urgentes que os do próprio país que, alegadamente, servem.
Espero ouvir, a partir da próxima semana, notícias a darem conta do aumento dos impostos, do corte no investimento público, de ter de se recorrer a receitas extraordinárias. Até estou preparado, se bem que mal, para o aumento dos impostos sobre os produtos petrolíferos. Mas que o PS saiba o que está a fazer. Que não se guie só pelo desejo de cumprir o PEC. Que não hipoteque o futuro de uma geração de jovens portugueses que está a ser coarctada de oportunidades. Que pense que está no poder para servir e não para se servir.
Quebrem o silêncio e façam sair essas medidas, mas que tenham um discurso e uma prática optimistas em relação a um futuro breve. Mudem o disco do fado para outra música mais alegre, mas mais consciente e menos dada a emoções e resoluções de última hora. Pensemos em reestruturar o país a sério e sem medos de penalizações em eleições. Portugal é maior do que os senhores dos palácios ou da Assembleia da República!

Carlos M. Gomes

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