segunda-feira, 9 de maio de 2005

"Ripa na rapaqueca!"

Este foi um fim-de-semana triste. Morreu o Sr. Jorge Perestrelo, uma das minhas referências de infância. O homem que dava mais vida ao futebol em particular e ao desporto em geral. O relato de futebol sempre foi, para mim, um sonho, um Olipmo inantigível. Ainda hoje, quando ouço os meus colegas da rádio a "cantar" um jogo de futebol me emociono. Um golo é um golo, mas na rádio é mais golo. O Jorge cantava-o como poucos. Era irreverente, utilizava expressões que vão ficar para sempre, como o "ripa na rapaqueca", ou o "que é que é isso ó meu?", ou ainda o "até eu com esta barriguinha marcava essa porcaria". Além da sua arte, tinha o condão de ser um não alinhado. Dizia o que os outros só diziam -- dizem -- em voz baixa e pagou muito caro essa veleidade.
Conheci-o em 1999, quando acompanhei o Benfica à Suécia, num jogo frente ao Halmstads (Halmstads - Benfica = 2-1, 2-2) a contar para a primeira eliminatória da Taça UEFA. Durante os quatro dias que privei com ele, ficou-me a memória de uma pessoa truculenta, mas honesta; controversa, mas com sentido; mas fica-me, sobretudo, o grande prazer de ter estado ao pé, de ter ouvido um relato ao vivo de uma referência dos relatos de futebol. Não ficámos amigos nem nada que se parecesse. Vi-o muitas vezes depois dessa experiência nórdica. Trocámos alguns cumprimentos cordiais, mas nada mais. É sempre bom manter a distância dos mestres. Foi o que fiz.
Gritou o último golo com as cores do Sporting. Aquele que deu o acesso à final da Taça UEFA. Foi uma despedida digna dele.
Adeus Sr. Jorge Perestrelo. Vou sentir falta.

Carlos M. Gomes

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