- Tu e eu podíamos ter uma conversa fresca para chegarmos a um acordo e juntos fazermos com que todos nos prestassem atenção...
-        Sim isso podia arranjar-se, mas sabes que eu não sou fácil. Sabes quantos me tentaram seduzir sem o conseguir?
-        Nem consigo arriscar um número.
-        Se te falta essa ambição, porque é que me pedes aquilo que me pedes?
-        Porque gosto de ter o que desejo.
-        E o que desejas?
-        Desejo que cheguemos a um acordo. Quero te seduzir e que tu me seduzas.
-        Sem presunção, eu já te seduzi há muito tempo. Tu é que agora me desejas tão ardentemente que nem te controlas. Estás pronto para tudo, menos para aquilo que pode acontecer. Tu podes falhar.
-        Eu devo falhar mas, utilizando um lugar comum, tenho de tentar. É como nos Jogos Olímpicos: o que importa é competir e não ganhar.
-        Não digas disparates. Tu sabes que se não ganhares não vale a pena competir. Foi isso que te afastou tanto tempo. Isto é um jogo perigoso, no qual só tu te podes magoar. Eu saio sempre ilesa, sem mácula e pronta para o próximo concorrente.
-        És uma puta.
-        E uma senhora, como vocês gostam...
-        Só que eu não disfarço, ao contrário das outras. Estou aqui. Sou um desafio. Eu sei que sou o mar aberto, ou o deserto tórrido, a ilha paradisíaca ou o continente perdido. Eu sou tudo o que quiseres, mas a escolha é imensa. É uma lotaria. Ou acertas – ínfima possibilidade – ou então desistes. Não podes concorrer outra vez, porque se o fizeres o descrédito será maior.
-        Então e esta conversa que estamos a ter? Não significa nada?
-        Isto é uma pequena entrevista, uma mera amostra da tua ignorância. Digamos que ainda estás muito verde.
-        Já percebi que me queres provocar, na esperança que eu não te insulte com as minhas palavras, mas fica sabendo que o vou fazer e mesmo que mais ninguém as leia, elas ficarão aqui sobre ti, a torturar-te, a fazer-te pensar. Terás alguma utilidade e ficarás preenchida. Enquanto eu viro costas e esqueço o que aqui escrevi, de forma a que a vergonha não me açambarque os pensamentos.
-        Estás enganado. O que aqui escreves não se limitará nunca a ficar aqui e permanecerá para sempre contigo e inabalavelmente comigo. Podes começar, estou pronta.
-        Obrigado.
Carlos M. Gomes
sexta-feira, 17 de dezembro de 2004
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário