terça-feira, 8 de maio de 2007

O que é humano pode ser estranho?

«Sou humano, e nada do que é humano me é estranho!». Esta frase, que me foi dada a conhecer por um amigo e consta de uma peça chamada "Heauton Timorúmenos" (O atormentador de si mesmo), serve na perfeição como epígrafe, embora contraditória, a estas duas estórias que me assaltaram hoje. E deixa também antever a fraternidade existente entre os homens, isto numa perspectiva socialista de homem-bom e não na outra mais social-democrata de homem-mau.
A verdade é que há coisas que, apesar de ser humano, me fogem à compreensão. Hoje, na minha habitual deambulação pelo Saldanha e arredores, vi um velho a andar curvado sobre si mesmo num ângulo de noventa graus, com as mãos nas costas que transportavam uma bengala e uma mala de mulher. Várias perguntas: De quem era o saco? Se era do próprio, porquê um saco de mulher? Faltava ali a parelha feminina? Seria o saco de mulher mais ao seu gosto? Porquê a bengala se ia na mão e não a ser utilizada para o seu fim? No fim da rua, vi o homem a endireitar-se, esticando-se, voltando à posição de curvado. Continuou caminho, pareceu-me que ia também a falar sozinho...
Serve esta última frase como deixa para o segundo humano incompreensível da hora de almoço. Um homem também, bem vestido e calçado, com bom aspecto apesar de já quarentão, dirige-se com toda a pressa do mundo a um caixote do lixo, dos milhares verdes que existem agarrados aos postes de Lisboa, e começa a falar para a pequena abertura como se estivesse lá alguém preso dentro. Após esta primeira abordagem, fica recostado no mesmo caixote enquanto come uma sandes e fala com o seu amigo imaginário, penso eu! Mais perguntas: Quem é que estava dentro do caixote? Por que é que só aquele homem é que ouviu quem lá estava dentro? Estava alguém ou algo lá dentro sem ser lixo? Por que é que as pessoas que passavam não estranharam a situação e continuaram como se nada fosse? Têm medo do que é diferente?

1 comentário:

Unknown disse...

A velha máxima de terêncio. ele tem outra muito boa e que é mais ou menos assim: a servidão traz amigos; a verdade, ódio.